O Espetáculo no Hotel Escarlate
O filme norueguês, Kadaver, um produção netflix, pode trazer grandes inspirações para uma mesa de jogo de terror. Sem me alongar muito, os clichês presentes no longa só servem para reforçar sua qualidade, afinal, existe uma razão para eles serem clichês: é porque dão certo! E nada de se alongar ou simplesmente jogar as coisas lá, a combinação de culto, medidas drásticas em situações desesperadoras, alucinações, espetáculos macabros, enfim, tudo para oferecer aquele bom banquete indigesto (quem assistiu sacou a referência).
O que faltou mesmo foi talvez um pouco de tempero, digo, mais dificuldades que poderiam ser acrescentadas com uma cena ou duas, apenas para adicionar um pouco mais de desespero. A "batalha" contra o vilão me pareceu fácil sim, mas na medida certa pois mostrou bem as habilidades do histórico da personagem. O ator que faz o vilão inclusive arrasou no papel, dando aquele ar teatral que combinou bem com a trama.
Mas chega de dar spoilers, estamos aqui mesmo pra falar de RPG e eu pensei como esse filme daria uma boa aventura. Primeiro a ideia era adaptar para Ravenloft, talvez num domínio bem desgraçado pelas brumas e a população sofra bastante, mas gosto do clima mais moderno e vou optar por organizar essas ideias para Chamado de Cthulhu. Rastro talvez não caiba porque o foco não seria investigação, mas sim sobrevivência, nem também conheço outros sistemas derivados mas talvez fossem uma boa pedida.
Há também o fato, claro, que a história ganharia muito com a necessidade de rolar alguns testes de sanidade...
O Início
Acho que o foco aqui é o mundo pós-apocalíptico sombrio, sem baboseiras mutantes nem supermáquinas. Ok, elas tem seu valor, mas para um história de terror acho que o fundamental é esconder o sobrenatural e ir mostrando-o só aos poucos...
Quanto às profissões, isso pode ser um problema se os jogadores não forem razoáveis, e muitos não são... Você poderia proibir aquelas como soldado e outras que ofereçam armas, ou então permitir e fazer com que haja uma revista minuciosa na entrada do hotel, e/ou então permitir com que guardas estejam fortemente armados na entrada me parece justo...
O Meio
O problema aqui é os jogadores não comprarem a ideia e atacarem um dos "atores" ou líderes do culto (ver abaixo), bom, daí uma manifestação do sobrenatural acho que seria pedida... Veja, para tornar tudo mais emocionante, e ser realmente uma aventura de Cthulhu, a presença do Mythos é necessára.
Cultuar Shub-Niggurath pode ter sido a resposta que Mathias Vinterberg buscou à morte da sua filha, ao seu consequente divórcio e à perda de parte de suas riquezas certamente sofrida após o desastre apocalíptico. Ele invocou ou está invocando a criatura/um servo dela abaixo do salão onde serve o banquete e faz seu discurso inicial da peça. Portanto, quem fica no salão pode sofrer alucinações ou até desmaiar, conforme os cultistas aproveitam o poder mais forte do Mythos naquele local e livram-se de indesejados. Poderão dar uma desculpa de levar pessoas que sofreram o desmaio para serem tratados (ou seja, para o matadouro no subsolo).
Desordem nos corredores e quartos do hotel podem ser resolvidas com as armadilhas onde os capangas aparecem. Isso antes de tudo ser revelado, é claro. Após terem visto a enrascada em que se encontram, os jogadores tem praticamente a liberdade de fazerem o que quiser, já que são eles contra o hotel e não o desconhecido. Mas ainda há o segredo de Shub-Niggurath que torna as coisas ainda mas legais e mantém o suspense.
O Mestre pode aproveitar os cenários e colocar todo o tipo de situação horrível que julgar apropriado. Da minha parte acho que o que é apresentado no filme já é o suficiente para manter o ar de mistério e separar o público. A escolha de Shub-Niggurath é claro que foi proposital com todos os retratos de ovelhas do hotel...
Ainda há a possibilidade de os personagens quererem fugir por portas e janelas. Para isso terão que arrombar, porque certamente estarão trancadas/barricadas, mas mesmo assim isso não quer dizer que estão livres. De tempos em tempos pode ter uma patrulha de capangas fazendo uma ronda. A desculpa é que o hotel pode sofrer ataques e eles estão ali para a segurança de todos, é claro.
O Fim
Acho que com isso damos o clima ideal para uma aventura de Cthulhu. O final mudaria, em relação ao filme, é claro, com a revelação de uma salão depois de uma porta no "açougue" onde só passam Mathias e alguns cultistas. No salão, um avatar de Shub-Niggurath está a postos para acabar com os personagens de uma vez por todas, ou então ser derrotado para que o hotel e o resto do mundo sejam salvos da sua influência maligna. Isso nos leva a dois outros pontos que acho centrais do filme em si...
Os dois têm a ver com o fato da Leonora ter tido muita sorte de procurar a filha, tentar atrapalhar os espetáculos e finalmente conseguir tudo num só dia. E se não foi assim, onde ela ficava escondida? Simplesmente sair correndo por aí pode ser algo que alguém em sua situação poderia estar acostumado mas ainda assim me parece humanamente impossível.
Para resolver isso, sim, tem os quartos dos "atores" e do próprio Mathias. Talvez uma ala onde estão todos. Ir para lá provavelmente seria morte certa e é até bom procurar evitar... De todo modo, pensei em de fato ter um teatro no salão das refeições e lá na coxia, a Leonora poderia reconhecer cada palmo dos seus tempos nos palcos. Talvez com acesso pelo elevador de serviço e com as passarelas e cortinas comuns nesses tipos de ambientes. Não deve ser muito confortável dormir ali, mas alguém no mundo pós apocalíptico deve estar acostumado a lugares piores.
O segundo ponto é a adição de cultistas realmente, tornando mais fácil explicar as coisas com lavagem cerebral e até mesmo magias. Lars e o bilheteiro certamente fariam parte, mas nada impede outras cédulas existirem por aí e estarem em contato com a do hotel...
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